sábado, 3 de abril de 2010

Promotoria encosta Lindberg na parede

Ex-prefeito de Nova Iguaçu já teve bens bloqueados e agora tem quebrados os sigilos bancário e fiscal

Quase dois anos depois das denúncias publicadas pela revista Isto É, revelando um suposto esquema de corrupção montado a partir de 2005 na prefeitura de Nova Iguaçu, o Tribunal de Justiça determinou a quebra dos sigilos fiscal e bancário do ex-prefeito Lindberg Farias (PT), para facilitar as investigações que estão sendo feitas pelo Ministério Público. Farias, que deixou a prefeitura no último dia 30, é o prefeito mais processado de toda a história do município. Lindberg e alguns membros de sua administração chegaram a ter os bens bloqueados por determinação judicial em outros processos.

Além de Lindberg, estão sendo investigados parentes dele, três ex-secretários de seu governo e 13 empresas. Os dados dos investigados estão sendo minuciosamente examinados por especialistas da Coordenadoria de Tecnologia em Investigação e Análise no Combate à Corrupção e à Lavagem de Dinheiro do MP. Lindberg tentou desqualificar as denúncias, alegando tratar-se de perseguição.

As investigações estão baseadas na denúncia de que um esquema teria sido montado para cobrar e receber propinas de empresas com contratos de fachada com a prefeitura de Nova Iguaçu. Parte do dinheiro teria sido usada para pagar despesas pessoais dos investigados. A Promotoria está investigando, além da denúncia de desvio de verba, os crimes de formação de quadrilha, lavagem de dinheiro, concussão (extorsão praticada por servidor público) e corrupção ativa.

Esquema em família

Em setembro de 2008 a TRIBUNA DA REGIÃO publicou a reportagem “Negócios suspeitos em família”, revelando que o Ministério Público estava investigando depósitos em dinheiro feito pelo ex-secretário de Finanças de Nova Iguaçu, Francisco José de Souza para pagar contas pessoais de Lindberg Farias e prestações de um apartamento registrado no nome da mãe do prefeito.

Foi revelada a chegada ao Ministério Público de cópias de extratos bancários que mostram depósitos de valores para pagamento de um apartamento no condomínio Lake Side, no nome da mãe de Lindberg, Ana Maria de Farias. O Lake Side fica localizado em Brasília e até a posse de Lindberg como prefeito de Nova Iguaçu, em janeiro de 2004, estava com prestações atrasadas, no total cerca de R$ 47 mil.

Os documentos mostram vários depósitos feitos para pagar as dívidas de Lindberg. O que os promotores não divulgam, alegando segredo de Justiça, é se o dinheiro saia dos cofres públicos, do bolso dos fornecedores ou de um suposto esquema de corrupção revelado através de gravações por ex-membros do governo.

Além do condomínio no nome da mãe de Lindberg, o MP investiga também pagamentos de contas pessoais de Lindberg como faturas de gastos com telefone das operadoras Vivo e Telemar, todas no nome do prefeito.

Os documentos mostram que alguns depósitos foram feitos em dinheiro pelo ex-secretário Francisco José de Souza, nas contas do condomínio, da empresa Wagner Imobiliária e na conta de Lindberg.

Cobrança por e-mail

Como a TRIBUNA DA REGIÃO já revelou, logo no início do primeiro mandato de Lindberg como prefeito, um funcionário identificado como Paulinho recebeu email do gerente da agência da Caixa Econômica que atende à Câmara dos Deputados, Murilo Menezes, pedindo que fosse tomada providência para o pagamento em atraso de dívidas de Lindberg, no total de cerca de R$ 18 mil. Paulinho reenviou o email para o então secretário de Finanças, Francisco José de Souza, pedindo que tomasse providências. Segundo depoimentos prestados ao MP, logo depois esses pagamentos foram feitos.

A cobrança do gerente da Caixa Econômica Federal foi feita no dia 25 de agosto de 2005, em mensagem eletrônica enviada às 10h34. “Caro Paulo, gostaria de pedir sua ajuda no sentido de resolver as pendências de Luiz Lindberg Farias Filho na Caixa... Precisamos de uma posição com relação ao assunto o mais breve possível”, disse, entre outras coisas, Murilo no e-mail, que imediatamente foi encaminhado por Paulinho a Chico Paraíba, com a seguinte recomendação: “Chico, recebi essa segunda mensagem do Murilo... Acho que ele deve estar sendo pressionado pela direção do banco... Veja o que é possível fazer com urgência, pois esse assunto pode se tornar público lá em Brasília, nada bom para o momento que vivemos”.


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