sábado, 8 de janeiro de 2011

Covardia em Itaguaí


Ocupantes de conjuntos habitacionais denunciam intimidação para os obrigarem a deixar casas dos conjuntos de Chaperó

Um clima de medo e tensão paira sobre os conjuntos habitacionais Topázio, Esmeralda e Turmalina, na localidade denominada Gleba B, em Chaperó, um dos lugares mais abandonados da Baixada Fluminense. Numa área particular tomada pela Prefeitura de Itaguaí, a Caixa Econômica Federal construiu 189 precárias moradias e o prefeito Carlos Bussato Junior, o Charlinho, tratou de distribuí-las, mas segundo membros da comunidade, muitos dos contemplados seriam moradores de outros municípios, o que deixou de fora pelo menos 75 famílias cadastradas, que acabaram ocupando parte dos imóveis e desde então, denunciam, estariam sofrendo ameaças e intimidações.

“O aconteceu aqui é uma grande injustiça. Todos nós estamos cadastrados e precisamos dessas casas para abrigar nossas famílias. Não é justo que essas pessoas sejam expulsas daqui e quem não precisa ganhe as moradias. Nosso movimento é pacífico. Não tiramos ninguém de casa para entrar. Ocupamos as casas vazias e elas estavam abertas quando chegamos. Essas pessoas não têm para onde ir”, destacou Willian de Oliveira, porta-voz das famílias, todas muito pobres, mas que concordam em pagar as prestações à Caixa Econômica Federal.

O medo está estampado no rosto das pessoas. A tensão é refletida no olhar de cada um. Homens, mulheres e crianças sofrem diante da incerteza. “Será que o prefeito terá mesmo coragem de nos expulsar daqui?”, indaga uma senhora. “E a Justiça, será que vai fazer essa injustiça com a gente?”, pergunta outra.


Setenta e cinco famílias vivem sob um clima de medo e tensão

Medo da violência

O município de Itaguaí é conhecido mais pela intolerância e pela violência que pelas grandes ações e senso de justiça. Na cidade divergências políticas já acabaram em morte e o povo sempre foi usado como massa de manobra. Abeilard Goulard de Souza, eleito para um segundo mandato de prefeito em 1988, foi assassinado próximo de sua casa, no dia 9 de junho de 1991, um domingo, quando desfrutava de momentos de lazer com a família.
Antes dele foi morto o vereador Dauto Apolinário e depois o secretário de Transportes, conhecido como Elias Poderoso. O mandato de Abeilard foi concluído pelo então vice-prefeito, Saulo Salustiano, hoje secretário de Governo.
Temendo serem expulsas na base da força, algumas famílias afirmam terem visto homens armados circulando pelos conjuntos e a chegada de qualquer estranho é monitorada pelas frestas de janelas e portas. O medo, a tensão e a incerteza são também residentes nas casas da Gleba B.


Vereadores prometem CPI

A área em que foram instalados os conjuntos habitacionais Topázio, Esmeralda e Turmalina não pertence ao município, mas mesmo assim foi firmado o convênio para que a Caixa Econômica Federal construísse as moradias. Para que isso acontecesse o prefeito Carlos Bussato deveria ter emitido um decreto de desapropriação do terreno e pago o valor da área ao proprietário, para só então entregá-lo à Caixa para as obras serem iniciadas. O local não tem nenhuma infra-estrutura e não há comercio por perto.
Os vereadores Toni Coelho e Albeilard Goulard Filho prometem não fazer por menos. Vão propor uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar a apropriação da terra e o convênio firmado com a Caixa.
“Vamos analisar tudo. Queremos apurar os fatos, inclusive buscar saber como a distribuição dessas casas foi feita, quem são e de onde vieram as famílias contempladas”, afirmou o vereador Abeilard Filho.
Para Toni Coelho, um dos fatos mais graves está na apropriação do terreno por parte da Prefeitura, o que sugere que legalidade não é o forte na administração municipal. Ele defende que o prefeito garanta moradias para todas as famílias que estão nas casas, inclusive as que fizeram a ocupação.


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