segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Para os “poderosos” refletirem

Nesses meus 28 anos de jornalismo conheci muita gente. Transito com desenvoltura por todos os setores e acabo rompendo a porta de gabinetes onde os poderosos se trancam para se esconderem do povo, essa gente chata que só serve mesmo para votar. Não fosse o direito ao voto, entendem esses poderosos, o pobre tinha mesmo é que morrer.

Sabe aquele político de sorriso largo? Pois é. Só aparece no período eleitoral. Voto garantido ele vai embora, vai se esconder numa sala confortável para evitar o contato desagradável com o Zé Povinho, gente cheia de problemas e que só quer saber de pedir.

É. É assim mesmo que eles pensam. Tem uns que não tem poder algum, mas se acham reis. Em Magé tem um assim. Chama-se Valdeck Ferreira de Mattos Silva. É um simples vereador, mas e acha o máximo. Tem metido os pés pelas mãos, feito tanta besteira... Pois na semana passada, mais precisamente na sexta-feira, 27 de novembro, ele levou um “sacode” danado da Justiça Eleitoral, por conta de algumas besteiras.

Valdeck teve o mandato cassado por seis votos a zero. Ainda cabe mais um recurso, um embargo de declaração que pode segurá-lo um pouquinho mais no mandato, mas se esse recurso não for acatado, terá de sair da Câmara e se defender fora do mandato.

O texto abaixo é uma crônica do jornalista e escritor Rubem Braga. Se os poderosos encontrarem um tempinho para lê-lo e refletirem, vão concluir que não são ninguém e que o padeiro é muito mais importante que todos nós.

Vamos refletir?

O Padeiro

Levanto cedo, faço minhas abluções, ponho a chaleira no fogo para fazer café e abro a porta do apartamento – mas não encontro o pão costumeiro. No mesmo instante me lembro de ter lido alguma coisa nos jornais da véspera sobre a “greve do pão dormido”. De resto não é bem uma greve, é um lock-out, greve dos patrões, que suspenderam o trabalho noturno; acham que obrigando o povo a tomar seu café da manhã com pão dormido conseguirão não sei bem o que do governo.

Está bem. Tomo o meu café com pão dormido, que não é tão ruim assim. E enquanto tomo café vou me lembrando de um homem modesto que conheci antigamente. Quando vinha deixar o pão à porta do apartamento ele apertava a campainha, mas, para não incomodar os moradores, avisava gritando: - Não é ninguém, é o padeiro! Interroguei-o uma vez: como tivera a idéia de gritar aquilo? ”Então você não é ninguém?” Ele abriu um sorriso largo. Explicou que aprendera aquilo de ouvido.

Muitas vezes lhe acontecera bater a campainha de uma casa e ser atendido por uma empregada ou outra pessoa qualquer, e ouvir uma voz que vinha lá de dentro perguntando quem era; e ouvir a pessoa que o atendera dizer para dentro: “não é ninguém, não senhora, é o padeiro”. Assim ficara sabendo que não era ninguém…

Ele me contou isso sem mágoa nenhuma, e se despediu ainda sorrindo. Eu não quis detê-lo para explicar que estava falando com um colega, ainda que menos importante. Naquele tempo eu também, como os padeiros, fazia o trabalho noturno.

Era pela madrugada que deixava a redação de jornal, quase sempre depois de uma passagem pela oficina – e muitas vezes saía já levando na mão um dos primeiros exemplares rodados, o jornal ainda quentinho da máquina, como pão saído do forno. Ah, eu era rapaz, eu era rapaz naquele tempo! E às vezes me julgava importante porque no jornal que levava para casa, além de reportagens ou notas que eu escrevera sem assinar, ia uma crônica ou artigo com o meu nome.

O jornal e o pão estariam bem cedinho na porta de cada lar; e dentro do meu coração eu recebi a lição de humildade daquele homem entre todos útil e entre todos alegre; “não é ninguém, é o padeiro!”E assobiava pelas escadas.




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