O poema “O poder” foi escrito em 1934 pelo poeta Ivan Junqueira. A mensagem, atualíssima, nos leva a refletir sobre como poder faz mal ao homem, principalmente a nós brasileiros.
“Eis o poder: seus palácios / hospedam reis e vassalos, / messalinas, pagens glabros, /eunucos, aias e lacaios, / e até artistas e ratos / Uma só migalha basta / à sordícia que se alastra, / e pronto surge uma talha / onde o cenário é lavado / para o próximo espetáculo. / O poder é assim: devasta / corrompe, avilta, enxovalha, / do reles pároco ao papa, / e não há um só que escape / ao seu melífluo contágio. / Se alguém o nega ou o afasta, / compram-no logo, à socapa, / a peso de ouro ou de prata. / E se caso não o fazem, / mais simples ainda: matam-no. / Tem o poder muitas faces: / a que se crispa, indignada, / a que te olha de soslaio, / a que purga e chega às lágrimas, / a que se oculta, enigmática. / Mas são apenas disfarces, / formas várias que se esgarçam, / por entre véus e grinaldas, / porque assim vertem mais fácil / o vitríolo em tua taça. / E tu, rei de Tule, aos lábios / levas sempre, ávido, o cálice, / não por amor nem saudade / de quem se foi, entre vagas, / de um castelo à orla do mar, / mas só porque, embriagado, / são de engodo as tuas asas / e de cobiça os teus passos, / que vão além das sandálias / e se arrastam rumo ao nada. / O poder é aquele pássaro / Que te aguarda sob os galhos. / Tudo ele dá, perdulário. / De ti quer apenas a alma. / Por inteiro. Ou a retalho.”
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