segunda-feira, 14 de março de 2011

Sujando o quintal do vizinho


Prefeitura do Rio vai jogar lixo em Seropédica

Não queremos que a nossa cidade seja a lixeira do Rio!” A afirmação indignada é de moradores, comerciantes e líderes comunitários de Seropédica em reação à construção da Central de Tratamento de Resíduos (CTR), que está sendo construída na área localizada há sete quilômetros do centro, adquirida pela empresa S/A Paulista, que apresentou o projeto em 2007. A área, parte da Fazenda Santa Rosa, faz limite com o município de Itaguaí, que também vai usar o local para o descarte de lixo. O que a população está questionando não é o projeto, mas o fato de Seropédica receber o lixo da capital fluminense, de Itaguaí e de a CTR estar sendo instalado nas proximidades do Aquífero de Piramema, o que, segundo especialistas, vai causar grandes danos ambientais.
A construção da central em Seropédica começou a ser discutida em 2007, quando a empresa S/A Paulista, que administra o Centro de Tratamento de Resíduos de Adrianópolis, em Nova Iguaçu, apresentou o resultado de um estudo de impacto ambiental por ela encomendado, apontando que não haveria nenhum dando ao meio ambiente, o que é desmentido por um outro estudo, esse encomendado pelo Conselho Universitário da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFFRJ). Esse estudo comprova que a CTR vai causar um verdadeiro estrago ambiental.
“Quando conheci o projeto achei tudo muito bonito. Fui a Nova Iguaçu conhecer a CTR de lá e achei tudo formidável, mas quando soube que a área escolhida era a Fazenda Santa Rosa, me posicionei contra, pois vai afetar nossos mananciais”, afirma Davi Camilo, um dos líderes do movimento contra a construção da CTR no local definido pela empresa para o aterro sanitário controlado.


No quintal do vizinho
Na verdade, o que está acontecendo é a permissão para que o lixo seja jogado no quintal do vizinho. A central seria inicialmente construída em Paciência, bairro da zona norte do Rio, mas a resistência travada por moradores e ecologistas provocaram a mudança para Seropédica. O projeto foi encomendado pela Prefeitura do Rio e pelo governo estadual, que precisavam encontrar um outro local para jogar o lixo da capital fluminense, já que o aterro sanitário de Jardim Gramacho, usado pela Comlurb, está saturado.
De acordo com o projeto apresentado pela S/A Paulista, “a CTR Santa Rosa será constituída de três sub-aterros denominados Aterro Sanitário para Resíduos Domiciliares - Classe II, Aterro de Resíduos Industriais - Classe I e Aterro de Resíduos Industriais – Classe II”. O projeto aponta ainda que “além dos sub-aterros a CTR Santa Rosa contempla uma Unidade de Tratamento de Efluentes Líquidos Industriais, Unidade de Tratamento para Resíduos de Serviço de Saúde, Unidade de Tratamento de Solo Contaminado, Unidade de Processamento de Resíduos Classe I composta por blendagem líquida e sólida, além das demais unidades de apoio da CTR”, concluindo que “o projeto apresenta uma vida útil de 20 anos considerando o recebimento de aproximadamente 8.000 ton/dia de resíduos domiciliares, além dos resíduos industriais, podendo atender a demanda gerada pelos municípios de Seropédica, Itaguaí e Rio de Janeiro”.

Repúdio
De acordo com o Conselho Universitário da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, a CTR de Seropédica representa um sério problema e tem de ser construída em outro local, mas as autoridades estão se fazendo de surda para esse clamor. Em nota assinada por seu presidente, o professor Ricardo Motta Miranda, repudia a instalação da central na Fazenda Santa Rosa, apontando os seguintes fatores: a) localiza-se em rico manancial hídrico: nascentes de rios e sobre o Aquífero Piranema;  b) é área registrada como risco de enchentes; c) fere leis federal e estadual e a Lei Orgânica do Município de Seropédica; d) interfere diretamente no tráfego aéreo da Região, tanto da Base Aérea de Santa Cruz quanto da aviação civil; e) coloca em risco patrimônio centenário de ensino, pesquisa e extensão; f) trata-se de área de expansão urbana e não foi feita análise de riscos à população do entorno da CTR e nem avaliados os riscos no transporte de cargas perigosas; g) impede o crescimento econômico da Região, por ser área do retroporto de Itaguaí; h) impacta diretamente áreas contíguas de assentamentos rurais.
“Neste contexto, o Conselho Universitário, apreensivo com a situação, reconhece a necessidade urgente de ser buscada uma solução técnica adequada para o tratamento de resíduos no estado do Rio de Janeiro, que não seja a área em questão, e coloca à disposição das autoridades sua capacidade técnica instalada para o estudo de solução viável, em respeito à qualidade de vida da população do estado do Rio de Janeiro e de seu meio ambiente. Conclama as autoridades competentes, em especial a Presidência da República, os ministérios da Educação, das Cidades e da Defesa, o governo do estado do Rio de Janeiro e o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro para a urgente abertura de efetivas negociações em busca de uma solução satisfatória”, diz a nota que foi divulgada no dia 21 de junho de 2010 e ignorada pelas autoridades.


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