terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Na marra não, deputado


André Corrêa tumultua processo eleitoral em Valença tentando ganhar no grito

Passando por uma inusitada situação – teve três prefeitos em dois anos – os eleitores de Valença retornam às urnas no próximo domingo para eleger um novo governante entre seis candidatos e como não bastasse o clima de incerteza e os problemas acumulados pela administração municipal, a disputa eleitoral que até então vinha sendo marcada pela cordialidade e o respeito entre os adversários, passou a ter momentos de tensão e ofensas com o registro de uma candidatura que teria sido imposta pelo deputado estadual André Corrêa (PPS), que estaria tentando ganhar no grito a Prefeitura, para a qual apóia o vereador Paulo Jorge Cesar, o Paulinho da Farmácia, segundo prefeito interino da cidade.
Paulinho, candidato do PPS, nem pensava em disputar a Prefeitura. Seu nome foi lançado pelo deputado e seu grupo depois que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) impediu que a eleição suplementar fosse realizada no dia 3 de outubro do ano passado, primeira data marcada pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE). O primeiro esforço de André foi para que o vereador fosse eleito presidente da Câmara Municipal e com isso assumisse a Prefeitura interinamente, o que aconteceu na primeira semana de janeiro, para um mandato de dois meses. A ação foi para tirar do governo o primeiro prefeito interino, Luiz Fernando Graça, candidato a prefeito pelo PP, que chegou a ser acusado pelo grupo do deputado, de ter sumido com os cheques destinados ao pagamento do salário de dezembro dos servidores municipais. Coincidentemente ou não, os ataques de André e seus aliados foram concentrados exatamente sobre Álvaro Cabral e Luiz Fernando, que polarizavam a disputa na primeira fase da campanha.
O clima de hostilidade, de acordo com algumas lideranças locais, “é percebido no jeito agressivo adotado pelo deputado que na semana passada chegou a ser detido por determinação da juíza Raquel Portugal, por conta de agressões contra Álvaro Cabral, candidato do PRB. “Esse rapaz parece querer ganhar no grito. Ele e o grupo por ele liderado, praticamente obrigaram o vereador Paulinho da Farmácia a lançar a candidatura e agora usam de métodos com os quais o povo de Valença não está acostumado. Eleição aqui na cidade sempre foi uma festa democrática. Essa não. Está sendo marcada pelo anti-jogo político. Temos a impressão de que se o vereador for eleito quem vai governar é o deputado e o pai dele. Não sabemos se isso será bom para Valença”, pontua um ex-vereador da cidade.

População repudia ataques
Com cerca de 70 mil moradores, Valença é uma pacata cidade do interior fluminense. Habitado por gente ordeira e trabalhadora, o município não tem histórico de guerra política, com os eleitores preferindo o campo das idéias, das propostas e não agressões gratuitas, como as que vem sido verificadas nos últimos dias.
“O deputado precisa saber que ele e o pai não são donos da cidade. Isso aqui não é extensão da casa deles. Eles têm todo direito de escolherem um lado e apoiar a esse ou aquele candidato, mas precisam respeitar as regras da democracia. Agindo desse jeito eles estão é atrapalhando o candidato deles”, diz um servidor público aposentado.
Contra o primeiro prefeito interino o grupo liderado pelo deputado divulgou na cidade que Paulinho da Farmácia estava com problemas para pagar os salários dos funcionários porque os cheques sumiram e que um caminhão havia saído da garagem da Prefeitura com documentos e computadores, o que mais tarde foi comprovado ser mentira, um mero ataque gratuito com intenções políticas, “coisas de gente baixa”, no entender das lideranças locais.

Prefeitos interinos não resolvem nada
Apoiando a candidatura de Paulinho da Farmácia, o ex-prefeito Vicente Guedes – cassado pelo TSE em julho do ano passado – é chamado na cidade de vendaval por conta dos estragos causados no município. Ele demoliu o parque de exposições que estava avaliado em R$ 10 milhões, entregou o serviço de água para a Cedae e deixou os setores de Saúde e Educação em petição de miséria, com hospitais, postos de saúde e escolas funcionando precariamente.
A situação de Valença já era ruim e só piorou com os gestores interinos, pois a instabilidade desses governos afetou todos os setores. Luiz Fernando Graça ficou seis meses no cargo e nada apresentou. Inflamado pelo deputado André Corrêa, Paulinho da Farmácia fez pressão para entrar e está apenas sentado na cadeira contando o tempo.

Dificuldades
 Além de revoltar a cidade com a destruição do parque de eventos e com o convênio firmado com a Cedae que passou a explorar o serviço de água, o ex-prefeito Vicente Guedes descumpriu um acordo firmado com os profissionais de Educação, pelo qual se comprometeu a pagar direitos atrasados aos professores, mas isso é visto com um problema menor diante do volume de dívidas deixadas por Vicente Guedes, contas que os prefeitos interinos não quitaram e ficaram para o vencedor da eleição de domingo quitar.
Conforme a Tribuna da Região já noticiou, Guedes comprometeu as finanças do município dois contratos considerados desnecessários: o da coleta de lixo, firmado com a empresa Locanty e outro com a cooperativa de mão-de-obra Multiprof. A Locanty fatura R$ 290 mil por mês por um serviço que a população considera ter sido melhor quando era feito diretamente pela administração municipal. O contrato com a Multiprof é de R$ 1,1 milhão. Ainda pesam nas contas uma dívida de R$ 2,4 milhões com a Previdência Social e um gasto extra de R$ 160 mil mensais, dinheiro usado para pagar o consumo de energia elétrica, que deveria ser assumido pela Cedae, que ganhou de graça o direito de explorar comercialmente o serviço de água no município. 

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