domingo, 4 de julho de 2010

Unidos por um amanhã melhor

Jovens buscam melhor qualidade no ensino e oportunidades iguais em Saquarema

Rajã dos Santos Arlotta tem apenas 16 anos, mas mostra uma grande preocupação com o futuro. Aluno do Colégio Cenecista Professor Alfredo Coutinho, ele lamenta a falta de oportunidades na cidade de onde, acredita, terá de sair um dia para concluir os estudos e trabalhar. A universidade mais próxima fica em Araruama e é particular. No município não se oferece nenhuma opção de formação profissional. A Prefeitura até disponibiliza transporte gratuito para os universitários, mas isso não é para todos: para se conseguir uma vaga, tem de ser indicado por um político aliado da prefeita Franciane Gago Motta.

“A juventude só conseguirá oportunidade se mudar de cidade, pois aqui não há nenhum tipo de formação profissional”, diz Rajã. O estudante vai além: “faltam eventos de incentivo a cultura, ao esporte; uma educação pública de qualidade e que atenda as necessidades da população; um hospital com profissionais capacitados, saneamento básico e maior preocupação com o meio ambiente”.

Para Lara Pinheiro, de 15 anos, colega de colégio de Rajã, não há futuro em Saquarema, pois o poder público não faz o dever de casa. “Não há oportunidades. Para se garantir o futuro é necessário sair de Saquarema”, afirma ela.

Estudante do Colégio Estadual Macedo Soares, Raphael Pinho, de 17 anos também não vê oportunidades na cidade onde mora. Hoje em Saquarema ou você tem um emprego provisório no comércio ou trabalha na Prefeitura”, observa ele. Rafael afirma que as coisas em seu município parecem não fluir.

“Penso que se existir um incentivo por parte da Educação, Esporte e Turismo, as coisas começariam a fluir melhor. Creio que iria começar a ter expectativa de um futuro. Quero fazer hotelaria e turismo. Gostaria de trazer coisas novas e um novo rumo para nossa cidade. Atualmente faço cursos de hotelaria na Faetec de Araruama para começar a ter uma base profissional”, completa Raphael.

Roberta Burgos é mãe de duas meninas, Carolina e Rafaela, com 12 e sete anos respectivamente, estudantes de uma escola municipal localizada no bairro Itaúna. Ela aponta a falta de professores e de material didático em algumas unidades de ensino. Sobre oportunidades ela é enfática: “Só se for por um milagre para podermos ter uma oportunidade, pois não tem nada que não seja dentro da Prefeitura. De resto é fazer bicos sem vínculo empregatício.

Os anseios de um líder estudantil

Com 19 anos, Marcelo Mastra é uma liderança entre os jovens de Saquarema. Ao concluir o ensino médio teve de mudar-se para a casa da avó, em Araruama, pois não conseguiu emprego na cidade.


O que o município oferece atualmente em termos de formação profissional?

A formação profissional em Saquarema é um grande desafio, uma vez que o município não fornece nenhum tipo de curso técnico e muito menos superior, ou seja, não oferece nada. A universidade mais próxima fica em Araruama, porém oferece poucos cursos. Isso faz com que a maioria dos jovens vá para Cabo Frio, cerca de duas horas de ônibus ou para Niterói, o que leva o mesmo tempo. Isso dificulta muito o nosso acesso a tão sonhada faculdade.


A Prefeitura dá algum tipo transporte?

Até existe ônibus universitário no município, mas só tem acesso a ele quem menos precisa e que tem algum tipo de vínculo com o deputado da cidade. Conheço vários casos de pessoas que foram impedidas de usufruir do serviço prestado pela Prefeitura, pelo simples fato de assumir não votar no Paulo Melo. Tem até um atual vereador que já foi expulso do ônibus.


Em que trabalhar atualmente em Saquarema?

Vivemos em uma cidade sem emprego e nenhuma perspectiva profissional pra ninguém. As chances que temos aqui são a Prefeitura, o comércio, obras, limpar piscinas e cortar gramas. Não há nenhuma oportunidade. A opção hoje em Saquarema é apoiar a velha elite da política para no final ganhar um emprego na Prefeitura, sem a mínima chance de crescimento.


Qual a sensação do jovem quando recebe o certificado de dispensa do serviço militar?

De tristeza. Em todo Brasil tomamos conhecimento que os jovens querem fugir do serviço militar. Aqui em Saquarema os jovens sonham em servir somente para ter um emprego, pois geralmente quando sobra do quartel, tem que cortar muita grama e limpar muita piscina na casa dos veranistas.


O que o jovem espera do futuro em Saquarema?

Se quisermos ter um emprego melhor não podemos ficar aqui. Isso me deixa muito triste: ter que sair da cidade onde fui criado, para conseguir emprego em outros municípios. Isso acontece por que quem está no poder não se preocupa com a nossa classe. Parece que a turma que tem o poder aqui não gosta da juventude, pois nós somos ignorados.



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