domingo, 18 de julho de 2010

Destruição consentida em Saquarema

Prefeitura permite “lixão” nas margens do Rio Bacaxá, transformando-o em depósito de pneus velhos e lago de chorume

Conhecido internacionalmente por suas belezas naturais e praias perfeitas para a prática do surf, o município de Saquarema está seriamente ameaçado. O alerta é feito por moradores da cidade, preocupados com o avanço de um aterro sanitário clandestino, onde a própria Prefeitura vem fazendo o descarte de lixo. O “lixão” desordenado ocupa uma grande extensão numa área de mata atlântica nativa, junto ao Rio Bacaxá, no bairro Rio de Areia. O rio, aliás, denunciam os moradores, vem sendo transformado em depósito de pneus velhos e num lago de chorume, líquido venenoso que vaza do lixo depositado na área, sem que a prefeita Franciane Motta e o secretário de Meio Ambiente, Gilmar Rocha, façam qualquer coisa para impedir a degradação.

Para o morador André Luiz, mais conhecido na cidade como André da Itaipava, a situação é vergonhosa. “Devido ao meu trabalho passo diariamente por vários bairros e presencio muitas coisas erradas na cidade, mas nada me chocou tanto como ver uma mulher em meio ao lixo, rodeada por dezenas de urubus. Quando vemos imagens como essa na televisão pensamos como é possível que algumas pessoas vivam daquela maneira. Quando vi isso aqui em Saquarema me desesperei, senti vergonha pelos meus representantes. Não acredito que eles desconheçam a realidade do próprio município. É muita cara de pau deles ignorar essa situação”, afirmou.

Já o morador Flávio Pereira destaca que o Rio Bacaxá tem grande importância para o município. “Ele dá nome ao maior bairro da cidade e em contra partida a Prefeitura está permitindo que se torne um cemitério de pneus e um lago de chorume vindo do lixão, que também está contaminando todo lençol freático daquela região. Isso vem acarretando a morte do rio e de todo eco sistema ao seu redor”, dispara Flávio.

Destruição e pobreza

Tanto quanto a destruição ambiental, a degradação humana choca os moradores de Saquarema. Sem opção de trabalho e desassistidas pela Secretaria de Promoção Social e Cidadania, muitas famílias se sujeitam aos riscos de doenças e ficam revolvendo o lixo na esperança de encontrar algo que possa ser vendido. Dividem o espaço com os urubus, como se tivessem garimpando a última esperança de sobrevivência.

“Presenciar essas famílias, inclusive algumas com crianças, ocupando barracas montadas no meio do lixão, foi a pior sensação que tive na vida. Sou pai e não me imagino vivendo com meu filho naquela situação. Apesar de ser uma forma de trabalho desumana admiro aqueles que mesmo assim preferem seguir este caminho ao invés de entrarem para o mundo do crime, pois aqui a pessoa não tem oportunidades de emprego”, afirma Flávio Pereira.

Mais ameaça

Além do “lixão” clandestino nas margens do Rio Bacaxá, está surgindo um outro na cidade, também por iniciativa da própria Prefeitura. Fica no bairro Gravatá, próximo ao campo de pouso. “ Moro em Saquarema há mais de dez anos. Viver com a casa alagada aqui já é normal, porém, nunca imaginei ter como vizinhos ratos, cobras, moscas, mosquitos e urubus, patrocinados pela Prefeitura que esta fazendo uso de uma área cercada de residências, próxima ao centro, um novo lixão. E como se não bastasse todo esse aborrecimento, ainda promovem queimadas infestando as casas ao redor com fuligem e fumaça. o que também prejudica o pequeno comércio local. Eu só queria viver em paz! Queria muito saber onde estão as autoridades competentes?”, indaga a moradora Kátia Martins.

Jogando para a platéia

Enquanto a degradação avança com a omissão da administração municipal, o vereador Rafael Pinheiro conseguiu aprovar projeto de lei instituindo o Selo Ambiental para as empresas que realizarem ações educacionais entre os funcionários, reflorestarem e ajudarem na despoluição de rios. Além do selo, essas empresas receberiam o direito de usar na publicidade o título de “Empresa amiga do Meio Ambiente”.

“A ideia seria louvável se correspondesse à verdade. Sãos os vereadores que devem fiscalizar e não o fazem. Essa historinha de Selo Ambiental não passa de uma bela maquiagem para a Prefeitura, um belo meio de limpar a sujeira que ela mesma produz com ajuda das empresas. Mais cruel é ver que essas autoridades se utilizam da boa fé da população, inclusive de crianças, criando a falsa expectativa de um futuro limpo e saudável, como foi feito no desfile cívico pelo aniversário da cidade”, concluiu Flávio.


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