sábado, 15 de agosto de 2009

“A situação é gravíssima”

Secretário admite caos na Saúde em Nova Iguaçu, mas não faz nada para melhorar.

“Não me responsabilizo pelo que encontrei.” A afirmação foi feita pelo secretário de Saúde, Marcos Souza durante audiência pública realizada pela Câmara de Vereadores na última quarta-feira, da qual participaram ainda as secretárias adjuntas Maria de Lourdes Oliveira Moura, Adriana Gutierrez e o secretário adjunto, Carlos Laranjeiras, que nada esclareceram sobre o caos verificado na rede pública do município.

A frase de Marcos - em resposta aos questionamentos sobre o atraso dos pagamentos a clínicas e laboratórios conveniados – irritou a vereadora Marli de Freitas, que foi secretária de Saúde durante 18 meses e já em sua gestão essas dívidas existiam. “Incrível com em um ano e meio destruíram todo o meu trabalho”, disse Marli, esquecendo-se de que os problemas verificados hoje no setor são os mesmos de sua gestão, que está sendo investigada pela Polícia Federal. Um dos fatos investigados é a compra de R$ 1,8 milhão em receituários adquiridos da empresa Lastro, que não teria chegado aos postos de atendimento.

Embora já tenha consumido mais de R$ 600 milhões nos últimos cinco anos, o setor de Saúde de Nova Iguaçu está em estado de agonia. A secretária já teve seis titulares e deverá conhecer o sétimo nos próximos dias, pois informações do gabinete do prefeito Lindberg Farias dão conta de que Marcos Souza poderá ser demitido ainda essa semana.

Durante a audiência o secretário admitiu que “a situação é gravíssima”, que falta material gráfico e que os médicos, muitas vezes, não têm como passar receita. Já a responsável pelo funcionamento dos PSFs, a funcionária da FioCruz, Adriana Guitierrez, disse que não conhece todos os postos. Moradora do centro do Rio, ela disse ainda que a Fundação não sabe qual é o perfil da cidade para adequar os PSFs.

As 10 horas de duração da audiência pública serviram apenas para confirmar o que todos já sabiam, inclusive os vereadores, que conhecem a realidade do setor, mas nunca deram um passo no sentido de fiscalizar as ações da Secretaria Municipal de Saúde. “Falta médicos e medicamentos nos postos, é difícil a marcação e realização de exames e cirurgias eletivas, o pagamento de fornecedores e clínicas conveniadas está atrasado. Sem falar no Hospital da Posse, que apesar de contar com dois mil funcionários, não é raro ter apenas um médico atendendo no setor de emergência”, listou o vereador Anderson Santos.


Farra das cooperativas continua


Embora a Justiça Federal tenha determinado a suspensão dos pagamentos à cooperativa Captar Cooper, a instituição continua faturando alto no município. Enquanto médicos concursados ganham apenas R$ 800 mensais, apadrinhados de políticos aliados ao prefeito Lindberg Farias contratados através da cooperativa chegam a ganhar mais que o dobro.

É o caso, por exemplo, de uma sobrinha e uma cunhada do deputado licenciado e secretário de Obras, Walney Rocha, lotadas no Centro de Saúde Vasco Barcelos. Elas não possuem nenhuma qualificação profissional na área, mas ganham R$ 1.800,00 cada uma. As duas estão no setor de vacinação, onde existem apenas duas cadeiras e cinco servidores que ganham mais do que os médicos aprovados em concurso.

Os tentáculos de Walney Rocha também alcançaram o posto da localidade de Miguel Couto, onde ele tem alguns apadrinhados contratados através da Captar Cooper. Nessa unidade trabalham ainda pessoas indicadas pelos vereadores Marli de Freitas e Carlinhos Presidente. Apesar da decisão judicial proferida em relação a um contrato de R$ 43 milhões feito em 2006 sem licitação e renovado outras três vezes, em janeiro deste ano a prefeitura voltou a contratar a cooperativa, que passou a receber R$ 3.067.907,05


Contratos questionados


O contrato que gerou a ação judicial contra a prefeitura foi assinado em 2006 e tinha o valor inicial R$ 43.415.281,20. Esse contrato também foi firmado emergencialmente pela Secretaria de Saúde e foi renovado duas vezes, sendo que o questionamento judicial foi sobre o segundo termo aditivo, que renovou o contrato por mais um ano. A renovação foi assinada por Henrique Johnson Buarque que ainda não era secretário quando o fez. O documento foi assinado no dia 21 de janeiro de do ano passado ano, um dia antes de Henrique Johnson assumir o cargo.

Além do novo contrato com a Captar, este ano a prefeitura fez outro sem licitação, no total de R$ 3.016.816,73, com a empresa Imunitec, controlada pela família do vereador Fernando Nagi, da bancada de sustentação do prefeito. Ainda sem licitação a prefeitura renovou um contrato de mais de R$ 13 milhões com a Empresa Iguaçuana de Manutenção e Serviços (Eims). Também foi feito um terceiro contrato com a Multiprof – Cooperativa Multiprofissional de Serviços, no valor total de R$ 3.627.624,00, para a prestação de serviços de limpeza de cozinha e preparo da merenda nas escolas da rede municipal de ensino.





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