sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Onde estão as borboletas de minha infância?

Hoje, em minha caixa de e-mails encontrei uma mensagem carinhosa. Não veio de nenhum leitor, assessor de político ou de autoridade pública, aspones que algumas vezes me bajulam para ver se dou alguma notícia que favoreça seus chefes e - na maioria das vezes - me esculhambam por eu pegar pesado contra os inimigos do povo.

O carinho em palavras veio de Rosângela Alves Vespúcio, uma amiga de infância, irmã do Vaguinho, que comigo estudou no Colégio Leopoldo e me acompanhava nas “peladas”, jogadas todas as tardes no campinho “careca” em que transformamos um terreno baldio localizado no final da Rua Mucuripe, no bairro Califórnia, na minha querida Nova Iguaçu.

Entre tantas lembranças narradas por Rosângela uma delas, mais que despertar em mim uma vontade louca de voltar ao passado, me acordou para uma realidade para qual as pessoas não parecem atentas: as borboletas sumiram.

Lembro-me que em frente ao nosso campo improvisado existiam três casas de muro baixo. Vez por outra nossa bola caía num desses quintais cheios de flores e borboletas. Eram tantas, de vários tamanhos e cores lindas. Bailavam entre as flores como que estivessem se mostrando num concurso de beleza. Encantavam-me, me faziam sonhar...

Os estudiosos dizem que as borboletas são um grupo da família dos insetos, da ordem dos Lepidópteros, palavra que quer dizer algo como “asas em escamas”. Elas tem o esqueleto externo e suas cores são inconfundíveis.

Meu Deus, onde estão as borboletas? Faz tempo, muitos anos, uns trinta, talvez, que não vejo Rosângela, mas não fomos apenas nós dois que sumimos um do outro. As borboletas também desapareceram e já nem me lembro mais de quando avistei uma daquelas multicores pela última vez.

Não sou especialista no assunto e não posso dizer o motivo exato do desaparecimento dessas coisinhas lindas, mas com certeza tem o dedo do bicho-homem nessa tragédia.



Daniele Machado

É verdade... sumiram as borboletas todas! Ainda eu, que vivi a minha infância a vinte, quinze anos atrás, lembro-me bem delas, de seu revoar, multicores que adentravam o verão além de sua estação das flores. Lembro-me de minhas artes de criança, de quando em uma pequenina e frágil pétala alguma pequena pousava, e eu tentava me aproximar para tocá-la, quando não com minha brutalidade de sempre a esbofeteava no ar, e a pobrezinha ao chão voava, ferida, com uma das asas quebrada, e eu severamente a entregava às formigas, aliás, estas sempre foram minhas amigas preferidas... estes pequenos seres que me fascinavam ao ponto de me manter de joelhos por horas no grande quintal de outrora, onde hoje há apenas casas, concreto firme que ocultam de minha lembrança o que antes foi meu doce lar. E quanto as formigas, estas que eu adorava, eu as alimentava diariamente das maiores guloseimas, pão, açúcar, farinha, tudo roubado da cozinha de minha avó, ia eu pé ante pé para tomar como meu punhados de alimento. Quando não, minha crueldade de criança boba me fazia atacar as minhoquinhas do canteiro, pondo-as em cativeiro para alimentar as mais temidas formigas vermelhas, as quais eu pouco me envolvia devido as demonstrações insistentes de ingratidão, empregadas à mim em suas mordidas constantes. E as borboletas, coitadas... serviam de alimentos vez ou outra quando eu decidia fazer as pazes com minhas inimigas...
Eu, bicho-menina na época, sem dúvida tenho minha parcela de culpa no desaparecimento das borboletas. Não tivesse eu durante tanto tempo, e tantas vezes, esbofeteado, e prendido as borboletas sob minhas xicrinhas de chá, interrompendo o ciclo natural de suas vidas...
Confesso minha inconsciente culpa. E ao som de Janis Joplin, bebendo uma estúpida Boehmia, sugiro: Um brinde as borboletas!


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