sábado, 26 de junho de 2010

Saúde vira caso de polícia

Ministério Público vai investigar relação de vereadores com administrações dos postos médicos em Nova Iguaçu

Depois da operação policial que resultou na apreensão de documentos na residência, no centro social do vereador Wilson Carvalho (PSC) e no gabinete dele na Câmara Municipal, o Ministério Público deverá investigar a ligação de vereadores com os postos médicos da rede controlada pela Prefeitura. Solicitação nesse sentido será encaminhada ainda essa semana à Promotoria de Tutela Coletiva por médicos concursados que atuam na rede e não aceitam a interferência política nessas unidades, o que, segundo afirmam, atrapalha bastante o atendimento à população.

Wilson, que comandava as unidades existentes no bairro Comendador Soares, está sendo investigado por falsidade ideológica. De acordo com o que foi apurado até agora pela Polícia Civil, Carvalho é suspeito de falsificar a assinatura de um médico para facilitar o encaminhamento de pacientes para cirurgias. Solicitação nesse sentido será encaminhada ainda essa semana à Promotoria de Tutela Coletiva por médicos concursados que atuam na rede e não aceitam a interferência política nessas unidades, o que, segundo afirmam, atrapalha bastante o atendimento à população.

O loteamento das unidades municipais de Saúde é uma prática antiga no município, foi ampliado na gestão do ex-prefeito Lindberg Farias e vem sendo mantido pela prefeita Sheila Gama. As unidades de Comendador Soares, por exemplo, haviam sido entregues por Lindberg ao controle do suplente de vereador Sebastião Berriel e há dois meses foram destinadas à Wilson em troca de apoio à prefeita na Câmara.

“Essa prática é vergonhosa, mas sempre ocorreu em Nova Iguaçu. O prefeito entrega a unidade a um determinado vereador e este indica o diretor e os chefes de setores, transformando o posto numa espécie de gabinete avançado, onde se faz política com o atendimento médico. Não existe hoje um posto sequer sem dono. Os vereadores se comportam como se realmente fossem proprietários dessas unidades”, revela um médico com mais de 20 anos de serviços prestados ao município.

Durante a operação foram apreendidos três malotes com documentos, prontuários médicos, cartões do Sistema Único de Saúde (SUS) e cadastros de eleitores, documentos que não deveriam estar nos locais de trabalho do vereador, que nega estar envolvido em qualquer irregularidade.

“Kit Saúde”

"Checamos a denúncia de que o vereador mesmo fazia o encaminhamento de pacientes para operações e ele também assinava as requisições. Questionamos um médico responsável se ele é que assinava e ele disse que sua assinatura foi falsificada e ele nem mesmo conhece o vereador”, afirmou o delegado da Delegacia de Defraudações, Robson Ferreira, esclarecendo que se for comprovado que Wilson Carvalho está envolvido no esquema, ele responderá por falsidade ideológica e crime eleitoral.

De acordo com o delegado, na pasta de um assessor do vereador, conhecido como Jorge Coronel, foram encontrados alguns receituários em branco. O policial disse ainda que há material suficiente para ele prosseguir com as investigações e que existem evidências de envolvimento do vereador nos crimes de falsificação, possível exercício ilegal da medicina e crime eleitoral.

“Na casa do vereador apreendemos um livro com o cadastro de todas as doenças, identidades, CPFs, títulos de eleitor e vários receituários, muitos em branco e cartões do SUS em branco. Apelidamos de KIT Saúde, pois as fichas encontradas são montadas com o cartão do vereador, título de eleitor, comprovante de residência, o receituário e o cartão do SUS”, concluiu o delegado.


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