Lidinalva Santos Ferreira vai completar 21 anos em outubro. Tem aparência de uma menina de dez anos. Sequer atingiu a puberdade. Há 20 anos espera pelo tratamento adequando e não o recebe
Depender de uma simples consulta médica na rede municipal de Saúde de Saquarema é um martírio danado. Disso reclamam pessoas acometidas de um simples resfriado ou com uma febre um pouquinho mais alta. Imagine quem precisa de um atendimento especializado para poder levar uma vida normal e não consegue fazer os exames que o caso requer.
Uma semana após ter revelado o descaso das autoridades locais para com o drama do menino Lucas dos Santos, de 14 anos, que não anda, não fala, tem crises de epilepsia constantemente, mas não recebe nenhuma ajuda do poder público municipal, esse jornalista voltou à cidade e além de constatar que ninguém da Prefeitura procurou a mãe de Lucas, Leci Maria da Conceição, para oferecer ajuda, ainda descobriu mais uma situação de indiferença para com a vida humana, fato que não parece sensibilizar a prefeita Franciane Conceição Gago Motta e a seus secretários.
No dia 10 de outubro Lidinalva Santos Ferreira Duque Estrada, carinhosamente chamada de Lídia pela família e amigos, vai completar 21 anos de idade e o que mais gostaria de ganhar é o tratamento médico aguardado há pelo menos 20 anos, direito que o poder público lhe vem negando. Apesar da idade, Lidia – com CPF, carteiras de identidade, trabalho e título de eleitor – parece uma menina de dez anos. Ela nasceu no dia 10 de outubro de 1989 com um problema congênito. Sua mente se desenvolve, o corpo não. Sequer atingiu a puberdade, mas isso parece não significar nada para quem gere os recursos destinados pelo Sistema Único de Saúde (SUS), para serem investidos em programas que realmente atendam a população.
Espera começou logo após o nascimento
Lídia – que tem três irmãos – mora com mãe, Dinalva Santos Nascimento, no bairro Boqueirão, onde falta de tudo, As ruas insalubres cuidam de tornar a comunidade em local propício a doenças, mas isso também é ignorado pela Prefeitura. Segundo Dinalva, desde os primeiros anos ela reparou que algo errado acontecia com a filha, que não crescia como as crianças a sua volta.
Lídia demorou muito para andar e pronunciar as primeiras palavras. Preocupada com o futuro da criança, Dinalva, conta, sempre procurou o hospital da cidade. Lídia era consultada e a mãe orientada a aguardar. “Diziam que minha filha era uma criança normal, saudável, e que a qualquer momento começaria a crescer”, afirma Dinalva, que apesar da pouca instrução não se deixou enganar e procurou opiniões diferentes, junto aos médicos do hospital local, mas sempre ouviu a mesma resposta: “Isso é normal”.
De acordo com a mãe de Lídia, somente quando a menina completou sete anos é que os médicos começaram a dar um pouco mais de atenção ao caso. Pediram os primeiros exames, analises que tiveram de ser feitas no Rio e cidades vizinhas. Há cinco anos, emenda Dinalva, Lídia vem sendo acompanhada por uma médica da Policlínica de Bacaxá, mas a médica sempre informa que precisa dos resultados dos caros exames que a menina precisa fazer para poder iniciar o tratamento com hormônios.
Ainda segundo a mãe, como a médica só atende uma vez por mês nessa unidade e a somente 15 pessoas, ultimamente ela não tem conseguido nem pegar a senha para garantir a consulta da filha. Também segundo Dinalva, conseguir a senha não significa obter atendimento imediato, mas apenas o agendamento para um prazo que pode variar em 30 e 45 dias. Dinalva conta que há três meses está tentando uma nova consulta para mostrar os resultados dos exames de sangue, ultrasom e tomografia pedidos em 2009.
Obrigação de fazer
Para o advogado João de Barros, que vem prestando assistência à família, Lídia não precisava ter esperado tanto tempo. “O que vemos aí é um caso explícito de desrespeito para com a vida humana. Somente agora, quase 21 anos após o nascimento é que se promete fazer o tratamento adequado. Os médicos demoraram muito para concluir por essa necessidade. Vou acompanhar esse caso de perto, assim como a situação do menino Lucas. Se o poder público não fizer nada e a família concordar, acionaremos a Justiça, pois a Secretaria Municipal de Saúde tem a obrigação de dar a esses e outros casos total atenção”, concluiu o advogado.
Lídia quer o tratamento adequado como presente de 21 anos
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