segunda-feira, 7 de julho de 2008

Coisas da polícia nossa de cada dia

Sou de um tempo que policial era policial e bandido, bandido. Não havia milícia e os guardas de trânsito não ficavam nas ruas abordando motoristas, apontando infrações para depois vender o perdão. Nesse tempo a nossa Polícia Militar não disparava suas armas contra inocentes e quando alguém se desviava do caminho, era punido com o rigor da lei e banido da corporação.

Pois é. Sou desse tempo, mas também sou de hoje, quando as corporações policiais - e até o Corpo de Bombeiros - estão manchadas, maculadas pela presença de marginais fardados e com distintivos. No meu tempo de criança se falava com respeito do "Treme-Terra", tinha a "Invernada de Olaria" que botava para quebrar em cima da bandidagem, mas não se metia com trabalhador.

Hoje o cidadão de bem perdeu o respeito pelo guarda da esquina e quando vê uma viatura policial fica sem saber o que fazer, pois não sabe se a operação é para valer ou apenas para render um extra ao policial corrupto, que é capaz até de arrebentar o lacre da placa traseira do carro desse cidadão, para ter uma infração a cobrar.

Quem nunca ouviu falar em flagrante forjado? Conheço muitas histórias sobre isso. Até já passei por uma situação ridícula numa madrugada dessas quando trafegava pela Linha Vermelha, onde fui parado por dois policiais e um deles, decepcionado por nada ter encontrado de errado, alegou que o documento do carro não poderia estar dobrado. Respondi que iria comprar uma pasta para poder carregar o licenciamento aberto.

Escrevo essas linhas para chamar a atenção das autoridades. Acabei de ver na televisão o desespero do pai do menino João Roberto Amorim Soares, de três anos, baleado na cabeça na Tijuca, Zona Norte do Rio, na noite de domingo. Ele estava, com o irmão (um bebê de nove meses), no carro da mãe. Voltava para casa depois de uma festinha. Pois é. O carro da família foi metralhado por dois policiais. Despreparados como muitos que estão nas ruas. Também vi o secretário de Segurança lamentando o fato, pedindo desculpas a família e dizendo que foi aberto um rigoroso inquérito. Esse é o problema, pois no Brasil, toda vez que se fala em "rigoroso inquérito" a vítima acaba levando a culpa.

Sei que nossas forças de segurança são formadas por uma maioria de bons profissionais, por pessoas honestas, mas parece que essa minoria de criminosos e despreparados é tão forte que ninguém consegue derrotá-la. As autoridades precisam ser mais rigorosas contra o corporativismo que encobre essa banda podre e extirpar esse câncer de vez, cortando o mal pela raiz. É isso que a sociedade espera.




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