Lideranças locais dizem que prefeita dá as ordens, mas quem estaria
governando é a irmã e dois secretários.
“Isso aqui não é apenas uma cidade sem lei. Também faltam ordem e o princípio de autoridade”. O desabafo é de lideranças comunitárias e comerciantes do município de Magé, revoltados com o que chamam de “bagunça institucionalizada”, que, segundo afirmam, se instalou na administração municipal. “Temos uma prefeita reeleita, mas essa não manda nada. As cartas são dadas pela irmã dela e pelos secretários de Fazenda e Planejamento, que estão levando os contribuintes ao desespero”, afirma um comerciante do centro, referindo-se a ex-secretária de Fazenda Nucia Cozzolino e aos secretários Roberto José de Melo (Fazenda) e Ricardo Luiz Monteiro (Planejamento).
Moradores e comerciantes estão revoltados com o aumento de até 300% sobre o IPTU que, segundo a prefeita Núbia Cozzolino (PMDB) teria desconto de até 65%. Eles reclamam, entretanto, que quando chegam para pagar encontram dificuldades. “A impressão que temos é a de que eles não querem que os contribuintes fiquem em dia com os impostos municipais, tal é a dificuldade que nos é imposta. No meu caso, por exemplo, me disseram que para o meu débito o desconto era de apenas 15%”, disse um morador que no dia 2 esteve na prefeitura e não conseguiu fazer o pagamento.
Na última segunda-feira pelos menos outros nove contribuintes tiveram dificuldades para pagar o IPTU, pois no setor específico foram informados de que no caso deles o desconto também seria só de 15%. “Vim aqui porque um carro de som passou em minha rua informando do desconto de 65%. Quem anunciava era a própria prefeita. Eu conheço a voz dela. Agora o funcionário diz que o desconto é menor e que a ordem é do secretário de Fazenda. Pelo que estou vendo Núbia não manda em nada aqui”, desabafou outro morador da cidade.
Os secretários de Fazenda e Planejamento foram procurados na última segunda-feira para falarem sobre o assunto, mas a informação passada à equipe de reportagem é a de que eles ainda não haviam chegado.
Dívida de R$ 1.500 passou para R$ 11 mil
Morador da localidade de Mauá, um contribuinte reconhece que tem um débito atrasado com a prefeitura referente ao ISS no valor principal de R$ 1.500,00. Ele diz que está querendo quitar a dívida e não consegue. “Estou doente e vivendo com dificuldades, mas quero pagar o que devo. O problema é que agora me informam que o total da dívida é R$ 11 mil. Isso eu não posso pagar”, reclama.
O caso desse contribuinte não é único e a esperança dos que se encontram na mesma situação está na Justiça. “Moço, essa cidade é controlada pela família Cozzolino e não é muito bom ficar reclamando das coisas erradas que encontramos por aqui. Já encaminhei meus boletos para a promotoria e isso não vai ficar assim”, completa uma vizinha do contribuinte de Mauá.
Na Rua Brasil, em Piabetá, um comerciante também reclama e muito. “Em plena crise a prefeitura aumenta imposto. Isso por si só é um absurdo. Depois a prefeita grava uma fita e a divulga em carros de som anunciando um desconto de 65%. Quando as pessoas vão pagar deparam com a dificuldade imposta por subalternos, que parecem que querem mais é que a dívida aumente”, concluiu ele.
A super-irmã
Núcia Cozzolino não teve um voto sequer, não exerce (de direito) nenhum cargo, mas é segundo alguns vereadores do bloco de sustentação da prefeita e funcionários da prefeitura, é quem manda em tudo e em todos. Nucia foi secretária de Fazenda até janeiro de 2008, quando foi deflagrada pela Policia Civil e o Ministério Público a Operação Uniforme Fantasma. Nucia estaca com prisão decretada e fugiu para não ser pega.
“A verdade é que ela é a prefeita de fato. Dá as ordens e os demais secretários obedecem. Na Secretaria de Saúde, por exemplo, não se compra um comprimido sem falar com ela”, diz um funcionário lembrando que no final do ano passado teria ocorrido um problema grave com o fornecimento de remédios e que a prefeita Núbia Cozzolino teve de se virar para resolver, pois um fornecedor que teria recebido pagamentos de cerca de R$ 1 milhão em medicamentos, teria desaparecido.
A Operação Uniforme Fantasma aconteceu no dia 25 de janeiro de 2008 e chegou a prender 22 acusados de fraude em licitações e desvio de verbas públicas. Eram 28 mandados de prisão e 60 de busca e apreensão para serem cumpridos em Angra dos Reis, Japeri, Magé, Rio Bonito, Santo Antônio de Pádua, Guapimirim e Itaboraí. Na lista para serem presos estavam Nucia, seu irmão Charles, que escaparam. Charles foi preso dias depois e acabou solto por força de uma decisão judicial. A irmã só apareceu depois que seu mandato de prisão foi suspenso pela Justiça. A ex-secretária de Assistência Social Renata Tuller foi detida em casa e liberada dias depois.
Governo de família
Logo ao chegar à cidade o visitante constata que Magé parece ser a extensão dos domínios particulares da família da prefeita. São mais de 20 escolas com nome de parentes de Núbia. Só Pergentina Cozzolino, a matriarca, dá nome a dois colégios. Tem Cozzolino que os moradores nunca ficaram sabendo que existia, Eduardo Cozzolino, também nome de escola, é um deles.
Porém, não é apenas pelos nomes da maioria das escolas que o visitante confunde Magé como propriedade da família, pois os Cozzolino tem presença forte na administração municipal. Além de Núbia estão oficialmente no governo João Luiz Cozzolino (secretário de Obras), Renato Cozzolino Sobrinho (secretário de Turismo) e Marcele Cozzolino (procuradora), mas além desses três, dizem alguns funcionários, Charles e sua irmã Jane teriam forte influência nas secretarias de Serviços Públicos e Educação, respectivamente, que, oficialmente, são comandadas por Sônia Sant´Anna de Brito e Ionete Machado dos Reis.
“Tenho até vergonha de dizer que nasci e vivo aqui em Fragoso (berço da família), pois muita gente pensa que nosso bairro também é propriedade deles”, diz um estudante da Escola Estadual José Veríssimo, localizada logo depois do Centro Educacional Cozzolino, fundado pelo pai de Núbia, o ex-prefeito Renato Cozzolino, que governou Magé de 2003 a 2006, quando faleceu. Renato foi eleito pelo PDS no dia 15 de novembro de 1982 para um mandato de seis anos. Cumpriu pouco mais de quatro anos.
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