quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Porque preservar é preciso

Em 1999, quando coordenava a restauração de vários movimentos de Magé, auxiliado pelo artista plástico e historiador Dario Navarro, um argentino que muito fez por Magé, o padre José Luiz Montezano escreveu algo que precisa ser relembrado hoje e posto em prática: “Cada época modela os monumentos que nos narram a história do povo, no momento em que os construiu: falam-nos eles de seu desenvolvimento, seus fatos notáveis, seu esplendor, suas aspirações ou sua tragédia.”
Escrevo esse artigo inspirado em mensagem a mim enviada agora pela manhã por uma professora amiga, muito comprometida com a questão cultural e que tem muito a oferecer ao município de Magé. Ela me escreveu sobre a primeira ferrovia do Brasil, que teve parte da área ocupada, o que resultou em prejuízos para a história e para o município, que teve parte do repasse do FPM penhorada para pagar uma multa judicial por descumprimento da sentença que determinou a retirada dessas pessoas. A professora me diz que “o problema é mais complexo do que se apresenta” e eu concordo com ela e reproduzo abaixo suas palavras.
“Inaugurada em 1854, a primeira Estrada de Ferro do Brasil levou o nome de Guia de Pacobaíba em homenagem a histórica igreja de N.S. da Guia de 1755. Estamos falando de história, ou melhor, de Patrimônio Histórico. Abandonado, dilapidado, destruído pela ação irresponsável dos que deveriam ser os guardiões dos bens públicos. No ano de 2002 um projeto de revitalização foi lançado através de convênio com o IAB, o BNDES, a Prefeitura e o Gov. do Estado. O problema das invasões já existia desde aquela época e a prefeitura se comprometeu a resolver a situação juntamente com o Sindicato dos Ferroviários. Na época, a então prefeita Narrimam Zito prometeu construir casas e transferir os invasores. Nada foi feito. O projeto foi arquivado. Os detalhes podem ser consultados junto aos arquivos dessas instituições e imprensa.
No governo Núbia não existiu nenhuma ação formal de recuperação da Ferrovia. Com o agravamento das relações de seu governo com o Estado, foi impossível estabelecer qualquer tipo de diálogo com os órgãos competentes. Simplesmente não existiu vontade política de ambas as partes. O patrimônio e o povo foram desconsiderados diante desse litígio. O governo Núbia nunca entendeu o significado do termo Cultura.
Em 2004, o INEPAC, órgão que representa o IPHAN no estado concluiu o Relatório de Inventário de Bens Culturais Imóveis, visando retratar o desenvolvimento territorial dos caminhos singulares do Estado do RJ. (Projeto patrocinado pela UNESCO). Esse relatório mostrou-se fundamental para conhecer o desenvolvimento e a formação do estado do RJ e conferir sentido histórico aos vestígios materiais mesclados ao tecido urbano, destituindo assim seu devido valor e significado.
Mas voltemos a Estação da Guia. Seu entorno continuou invadido por construções irregulares que se ampliaram e até uma empresa de grande porte (GDK) se instalou nos terrenos da ferrovia, com aval da prefeitura, fazendo uso inclusive de uma das residências da Estação. Era o governo realizando os sonhos empresariais às custas do povo. Neste momento, onde uma nova proposta de administração pública tem o apoio da grande maioria da população, o prefeito Nestor Vidal tem pelo caminho o desafio de tornar possível a recuperação prometida por seus antecessores e jamais cumprida, de devolver restaurado o Patrimônio Histórico e Arquitetônico do município. A tarefa não é simples. Acordos, negociações, investimento de recursos humanos e financeiros, projetos, planejamento e ações concretas sem improvisos, precisam ser feitos com urgência, sob risco do município perder em definitivo seu Patrimônio Cultural, testemunho de um país que” estava por se construir, onde tudo estava por fazer, onde tudo poderia ser”.
Em verdade, Magé infelizmente se encontra estacionada no tempo para ser inventariada, reconstruída, restaurada. Quem se habilita?



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