Dentro das mudanças que aconteceram na Câmara de Nova Iguaçu, uma delas merece nossa atenção especial essa semana. Os vereadores aprovaram a cessão de uma rua nos fundos do Top Shopping para que a empresa faça uma grande expansão. Até ai, tudo bem, afinal, a obra vai gerar vários empregos. No entanto, é importante que a história envolvendo os fatos seja contada. Há mais um ano que o vereador Xandrinho (PV) levou a mensagem do prefeito fazendo o pedido à Câmara depois de todo esse tempo, não havia colocado em pauta. O pedido sequer fora protocolado.
Depois de uma denúncia no programa Perfil da Baixada, liderado pelo radialista Gabriel Barbosa, o presidente da Casa, Marcos Fernandes, colocou a questão em pauta. Em menos de duas semanas o projeto foi protocolado, colocado em pauta e votado. Numa eficiência que há muito tempo não se via na Câmara. Os vereadores esqueceram até a lei orgânica que prevê a contrapartida da empresa em situações como essa. Alguns vereadores se retiraram do plenário para não votar em um projeto que não seguia a regras.
Esses vereadores foram taxados como "insensíveis" por não atenderem os interesses da maioria. Na verdade, o que esses vereadores queriam era que a lei fosse cumprida. Talvez seja pedir um pouco demais em uma Câmara onde a maioria só pensa nos próprios interesses e, é claro, agradar ao prefeito Lindberg Farias. O vereador Thiago Portela foi um dos que apresentou emenda. A emenda de Thiago prevê que o Top Shopping, em contrapartida ao projeto, construa uma escola municipal que atenda a lei da acessibilidade, isto é, esteja preparada para atender alunos portadores de necessidades especiais.
A pergunta que não quer calar é simples: por que o projeto demorou tanto a ser colocado em pauta? Por que o vereador Xandrinho não o defendeu como tinha prometido aos empresários do Shopping? Por que esse mesmo vereador Xandrinho, de repente, resolveu apresentar uma emenda pedindo a construção de um teatro? Por que o prefeito Lindberg Farias não seguiu os tramites e já mandou o projeto prevendo as contrapartidas e até dando sugestões?
Posso dizer apenas, sem ser leviano, que alguns vereadores estão retrocedendo. Pelo jeito, querem voltar ao passado recente onde votavam tudo sem ler, quando não se importavam com a constitucionalidade e votavam qualquer coisa. Pelo jeito, os vereadores vão repetir o mesmo erro dos colegas de outro mandato onde a vontade do povo ficava sempre em segundo plano. A diferença é que hoje tem muito mais gente de olho e mesmo dentro desse grupo de laranjas podres podemos salvar pelo menos uma. Mas se essa cosia de doar ruas virar moda, vai ter muita gente procurando a Câmara para dizer: eu também quero.
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