sexta-feira, 20 de março de 2009

O pequeno grande homem

Celso Valentim


Ao passo que os anos passam, a vida nos leva muitas pessoas que tiveram intensa participação em nossas vidas, mas também nos deixa lembranças que às vezes nos anima a viver com intensidade. Falo do Carlinhos da Tinguá, que foi brutalmente assassinado na manhã de quinta-feira, em pleno Centro de Nova Iguaçu. Quando escrevo este artigo, é evidente que penso na amizade que perdurou por mais de quatro décadas entre nós. Ele já foi meu sócio e amigo em diversos momentos da minha vida. Um homem tranqüilo, honesto e trabalhador, sempre investindo em Nova Iguaçu.


Poderia contar diversas histórias sobre este ser humano que sempre se dedicou à arte de criar amizade. Não é à toa que o seu assassinato causou uma repercussão enorme na cidade e comoveu grande parte das pessoas que com ele conviveu. Carlinhos sempre foi e será lembrado por muitas pessoas, pois era um homem cujo altruísmo era uma virtude sempre presente nas suas ações. Portanto, vou contar apenas um caso para ilustrar a alma bondosa desse amigo que partiu.


Carlinhos não era só um empresário bem sucedido. Ele tinha um coração maior que Nova Iguaçu, e sua integridade moral sempre o fez ser invejado. Em razão dessa integridade, ele diversas vezes foi convidado a participar de governos, e passou por eles sem sequer macular o seu nome. Mas, voltemos à uma simples história desse grande homem.



Certa ocasião o prefeito Rui Queiroz convidou Carlinhos para ser o seu secretário de Governo. Carlinhos aceitou e, como não podia deixar de ser, era um homem muito influente na administração municipal. Certo dia, evitando que a cidade fosse tomada por camelôs, ele impediu que novas bancas fossem colocadas nas calçadas na época do Natal. Por esse motivo foi procurado por um homem, que pediu para colocar uma banca em determinado ponto. Carlinhos não pensou duas vezes e disse que não podia permitir.


Ponderando, o homem justificou que essa era uma oportunidade para faturar algum trocado, pois estava desempregado e tinha a família para sustentar. Carlinhos novamente fez um sinal negativo, mas o homem insistiu. Quem pensa que Carlinhos tinha o coração de pedra vai descobrir agora quão bondoso era o coração deste homem.


Apesar de negar o espaço para a colocação da banca, Carlinhos perguntou ao homem o quanto ele ganharia com a banca. Colocando em cifras atuais, o homem disse que seria algo em torno de R$ 700. Carlinhos, olhou nos olhos do rapaz, colocou a mão no bolso, retirou a quantia e disse: “Vai, toma o teu Natal nas mãos, mas por favor não coloque a banca”.


Essa história, se não revela, pelo menos ilustra a estatura moral e humana desse que nos deixa, agora, com o sentimento de saudades. Foi e sempre será um pequeno grande homem.


*Celso BarrosoValentim foi vereador por quase 40 anos e é um dos empresários que mais colaboram com o crescimento de Nova Iguaçu.






0 comentários: