O quatrocentão município de Magé – que mais parece uma capitania hereditária – vem sendo marcado por uma sucessão de erros desde sua fundação. Os historiadores que ao longo dos anos foram contando a história dessa cidade cometeram vários equívocos e foi preciso que um argentino chegasse para convencer as autoridades de que estavam rendendo homenagens ao fundador errado. Sempre se ensinou em Magé que o fundador era o portugues Simão da Mota, nome de uma das vias mais importantes do lugar. Dario Navarro, que não tinha formação em história e ganhava a vida como artista plástico, mostrou por A mais B que o tal Simão nunca havia pisado em Magé e que todas as honras e glórias teriam de ser repassadas para outro portugues, Cristóvão de Barros.
Lembro-me de que o aniversário da cidade era comemorado no dia 2 de outubro e foi Navarro quem se movimentou para que o 9 de junho passasse a ser a data oficial, atribuindo essa necessidade de mudança coincidir com o dia da morte do jesuíta José de Anchieta, que nasceu na Espanha e chegou ao Brasil no dia 13 de julho de 1553, com 19 anos de idade. Não há nada que comprove que o missionário – que morreu em 9 de junho de 1597 – tenha mesmo passado por Magé, mas lá tem um poço que dizem ter sido bento por ele.
O que a história conta com riqueza de detalhes é que o padre José era professor de ensino primário e catequista; que ensinou os princípios do catolicismo aos índios, ajudou a cuidar dos doentes; que foi guerreiro, tendo auxiliado em conflitos entre os índios e os estrangeiros; que foi escritor e deixou duas obras especializadas: "Gramática da Língua Brasílica" e "Vocabulário Tupi-Guarani", que tratava da língua falada pelos índios tupi-guaranis. A história também revela que o missionário ajudou a fundar as cidades de São Paulo, Rio de Janeiro e depois estabeleceu-se no hoje estado do Espírito Santo, na aldeia de Rerigtibá, a atual cidade de Anchieta.
A impressão que se tem é a de que tudo em Magé começa de forma errada. É como se fosse o estigma do passado. É por essas e outras que esse município precisa passar sua história a limpo. Reinventar seu destino, extirpar os vilões para construir um novo caminho. A receita do município hoje dá para tirar do papel projetos que causariam orgulho e incutiria na cabeça dos mageenses a certeza de que estariam vivendo num excelente lugar, mas para isso é necessário uma administração sem vícios e, muito melhor, sem vínculos com o passado.
É com vocês, mageenses. Eu nada posso fazer para ajudá-los. O que posso, devo e continuarei fazendo é lhes irformar. O resto, como já disse antes, depende daquele momento mágico de intimidade com as urnas eleitorais.
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