sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Autoridades abandonam Hospital da Posse em Nova Iguaçu

Ferramenta pesada como material cirúrgico

.NOVA IGUAÇU Familiares e médicos em desespero. Esse é o retrato de uma das maiores unidades de Saúde no estado. O Hospital Municipal de Nova Iguaçu, mais conhecido como Hospital da Posse, sempre foi alvo de reclamações dos seus pacientes desde sua inauguração há mais de 20 anos. No entanto, nos últimos dois anos, o número de reclamações aumentou consideravelmente. Algumas dessas reclamações chegaram a Justiça. De 2005 para cá são 10 processos registrados contra apenas um de 2002 até hoje . Há poucos dias, médicos e funcionários, cansados de ver o descaso das autoridades, resolveram denunciar a falta de estrutura para receber pacientes fraturas graves e traumatismo de crânio.

As fotos são chocantes e algumas autoridades preferem dizer que não são verdadeiras para fugir da responsabilidade. “Quem diz que as fotos enviadas pelos médicos são falsas é porque não precisam do serviço público e nunca entraram no Hospital da Posse. A coisa mais comum é ver pessoas mobilizadas com papelão”, informa um funcionário que não quis se identificar. A presidente do Conselho Regional de Medicina (Cremerj), Márcia Rosa de Araújo concorda com o funcionário. “Cada dia falta uma coisa diferente. O médico nunca sabe o que vai encontrar no seu plantão. É o caos”, diz.

Em abril desse ano ela e sua equipe estiveram no Hospital da Posse. “Quando estivemos lá constamos a falta de estrutura e ouvimos a queixa dos profissionais. O médico fica entre a cruz e a caldeirinha. Precisa fazer o atendimento, precisa salvar a vida daquele paciente mas não tem meios para isso”, lamenta.

Márcia lançou essa semana a campanha “Quanto vale um médico”, que pretende expor para sociedade o problema do profissional. “Na verdade, o médico e o paciente estão do mesmo lado. O médico não é o vilão. É isso que queremos mostrar com essa campanha”, aponta. Márcia já pediu audiência com o governador Sergio Cabral, com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e com o prefeito do Rio, César Maia. “O próximo a receber o pedido será o prefeito de Nova Iguaçu, Lindberg Farias. Vamos procurá-los para tentar chegar a um denominador comum. O médico não pode trabalhar sem o mínimo de estrutura. As vezes, ele não tem sequer o soro para limpar o paciente”, completa.

A presidente do Cremerj lembra ainda que um médico ganha, aproximadamente R$ 1,5 mil por mês para fazer plantão de 24 horas. “Um policial rodoviário começa recebendo R$ 5.087,00. Isso também precisa ser revisto. Em Nova Iguaçu temos ainda um outro problema que é a maternidade. A Mariana Bulhões é para alto risco mas são poucos leitos. Os médicos acabam tendo que mandar essa parturiente para outra unidade e muitas acabam morrendo sem atendimento. É muito grave”, lamenta. Com a campanha, Márcia espera não sensibilizar apenas as autoridades mas também a população. “Estamos do mesmo lado”, termina.

Vereador quer investigação

O vereador Marcos Ribeiro pediu a criação de uma comissão para investigar o que está acontecendo no Hospital da Posse. Ele também enviou ofício para a Secretaria Estadual de Saúde, para o governador Sergio Cabral, para vários órgãos de Direitos Humanos e até para a Presidência d República. Ele espera que a comissão seja formada por vereadores da oposição e da base aliada do governo para que possam juntos descobrir se o que acontece no Hospital da Posse é um problema de gestão ou de desvio de verba.

No início desse ano foi aberta uma CPI para investigar para onde está indo a verba de R$ 8,5 milhões que são repassados mensalmente ao município de Nova Iguaçu. A CPI está suspensa por liminar. “Precisamos saber, afinal, o que está acontecendo. O que não podemos é continuar assistindo a esse tipo de coisa sem fazer nada”, resume o vereador. Já o presidente da comissão de Saúde da Câmara, Cláudio Cianni, ainda não se pronunciou sobre o assunto, já que é da base aliada do governo.


A CPI foi aberta depois que proprietários de clínicas conveniadas denunciaram que não estavam recebendo o repasse do Sus há seis meses no final do ano passado. Na época, o prefeito Lindberg Farias disse a imprensa que “não estava repassando o dinheiro para as clínicas porque estava passando direto para o Hospital da Posse”, que já estava em crise. Mensalmente, o Hospital recebe R$ 3,5 milhões. Mas, no governo Lindberg Farias, já receber a mais R$ 18 milhões e depois R$ 11,5 milhões que seriam para reforma da emergência e compra de equipamentos.


Imobilizado por papelão






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