Nesses anos todos de carreira cobri várias campanhas eleitorais, entrevistei muitos políticos, uns sérios e outros nem um pouco. Como repórter tive e tenho contato direto com o povo. Transito com muita facilidade pelos corredores do poder, sem, entretanto, misturar as coisas. Um certo dia, em 1994, lá pelas bandas do Nordeste, encontrei um candidato a deputado que me fez lembrar de uma figura pública lá de Mirai, cenário de minha infância feliz, na zona da mata de Minas Gerais.
Estava numa cidadezinha insalubre de Pernambuco fazendo uma matéria sobre o comportamento dos candidatos e dos eleitores durante a campanha eleitoral, quando me deparei com um tal de “Dr. Teixeira”, homem de muita eloquência e oportunismo de sobra. Falastrão, ele entrou num casebre e, mostrando-se comovido com o estado de miserabilidade da dona da casa e de seus oito filhos, soltou seu repertório: prometeu dentadura a mulher e ao marido, comida e brinquedos para a criançada amarela e barriguda de vermes.
Fiz o meu trabalho e não voltei lá para saber se as promessas foram cumpridas ou se tudo não passara de palavras vazias como as que sustentam os discursos fáceis da politicalha brasileira.
Na minha infância, lá em Mirai, conheci um certo Sr. Teixeira, homem de aparência austera, sempre vestindo ternos impecáveis. Certo dia ele chegou em minha casa apresentando-se candidato a não sei o que. Do cargo disputado eu não me lembro, pois eu tinha no máximo uns sete anos de idade, mas a promessa ecoa até hoje nos meus ouvidos:
- Se eleito, chegarei aqui com um saco cheio de brinquedos -, disse ele olhando a mim e meus irmãos, como se fossemos dependentes da “bondade” dele.
Não sei se ele alcançou ou não seu intento, mas a promessa, tenho certeza, não foi cumprida. Felizmente nem eu nem meus irmãos dependíamos da caridade dele, pois nossa mesa era farta e nunca nos faltou brinquedos, livros, carinho e boa educação.
Estou recordando essa história e compartilhando-a com vocês pela necessidade de estarmos atentos aos vendedores de ilusão. Tem muito Teixeira por aí. Prometem saúde, educação, saneamento e transporte digno, mas o máximo que ofertam é aquela maldita cesta básica, um saco de cimento, uma manilha ou um botijão de gás em troca do seu voto. Depois? Isso é outra historia, um drama que você levará no mínimo quatro anos para se livrar dele.
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