sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Uma crônica de Natal

As vitrines coloridas nos convida ao consumo. Suas luzes brilham intensamente e ao piscarem dizem vem! Que bom que podemos ir e realizar os sonhos de nossos filhos e presentear a nós próprios com aquele objeto que queremos tanto... Que bom? Nem tanto... A desigualdade está muito próxima de nós. Basta-nos olhar para o lado...

Agradeço a Deus pela mesa farta, pela geladeira cheia e pelo conforto proporcionado a minha família. Sou um privilegiado, é verdade, pois como resultado do meu trabalho tenho recebido bem mais do que mereço, mas o que tenho feito pelos meus iguais tão desiguais na hora do pão? Eis ai uma boa pergunta.

Será que bastam prostrar-me no templo e pedir pela paz mundial, rogar a Deus pela proteção aos desvalidos e fazer doações para asilos e orfanatos? Claro que não! É preciso muito mais que isso. Ainda que eu saísse por aí distribuindo minha renda com os que nada tem eu nada estaria fazendo. Se num surto de bondade eu saísse às ruas na noite de Natal e recolhesse ao conforto do meu lar os que vivem sob as marquises do nada, pontes e viadutos, eu nada estaria fazendo, pois o bem não se pratica apenas porque é Natal. O bem é para ser exercido todos os dias do ano.

Escrevo essas linhas inspirado numa cartinha escrita a Papai Noel por um dos milhares de meninos que vivem nas muitas comunidades pobres formadas nos morros do Rio. Essa carta chegou até a mim através de um grupo de senhoras católicas que fazem um belo trabalho social nessas comunidades. Elas estimulam as crianças carentes a escreverem a Papai Noel pedindo três coisas que elas mais querem.

Na carta que veio para mim o menino pede - além de um par de tênis do Homem Aranha e roupas – uma caixa de ferramentas de brinquedo. Ele vai ganhar o que pediu, mas a caixa de ferramentas será dada com uma satisfação ainda maior, pois percebi naquelas garatujas o desejo de consertar expressado pela inocência dessa criança.

Então feliz Natal. Que felizes sejam os outros tantos natais que hão de vir e que em 2011 tenhamos mais tempo para refletir sobre o verdadeiro sentido do bem.


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