segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Uma cidade de buracos e de papel

Crateras ilham Nova Iguaçu, mas prefeita continuam falando de grandes projetos que não saem da gaveta

Quantos quilômetros de rede de esgoto e de pavimentação poderia ser feito com R$ 50 milhões? Quantas unidades habitacionais, escolas e postos de saúde esse volume de recursos poderia ter propiciado? Certamente a população estaria bem mais satisfeita se esse dinheiro tivesse sido investido em obras, mas a realidade é que foi gasto com papel, ou melhor, com projetos que talvez jamais sairão das gavetas da Prefeitura, uma vez que a maioria está fora da realidade do município.

Segundo levantamentos feitos sobre os projetos apresentados em Nova Iguaçu, nos últimos cinco anos a administração municipal gastou cerca de R$ 50 milhões, sendo que mais da metade desse recurso teria ido para um escritório contratado pelo ex-prefeito Lindberg Farias. Embalada no mesmo sonho, mesmo não gastando tanto com papelada e maquetes, a prefeita Sheila Gama segue falando de projetos que acabam provocando o deboche da população, como o do aeromóvel, um trem suspenso que segundo a prefeita ligaria o centro da cidade à Santa Rita, passando pelo viaduto da Posse, cuja duplicação foi iniciada há três anos e ainda não foi concluída, embora mais de R$ 12 milhões já tenham sido gasto na obra, que agora está sendo feita pelo governo estadual.

“Falar em trem suspenso é uma piada de mau gosto considerando que a Prefeitura não consegue nem tapar os buracos das ruas. Acho que a prefeita desconhece a realidade de Nova Iguaçu. Acho que ela não sai do gabinete para nada e se sair deve ser de helicóptero. Nossa cidade está literalmente no buraco. Esses projetos são muito bonitinhos, muito modernos, mas para que servem senão para dar a falsa impressão de realização a uma prefeita que, repito, não consegue cuidar dos buracos nas ruas?”, dispara um conhecido arquiteto que já fez vários projetos para a cidade.

Uma utopia que irrita

Nova Iguaçu é uma grande cidade, forte em produção e consumo. Merece grandes projetos, mas falar de aeromóvel quando a realidade é de vias abandonadas, tomadas por crateras e com iluminação precária, no entender de líderes comunitários, comerciantes e empresários, soa como utupia.

Grande parte da população ainda pisa na lama e convive com o esgoto à céu aberto. Os postos de saúde não funcionam por falta de medicamentos e obras de saneamento e urbanização estão paradas por falta de dinheiro, mas em setembro a prefeita Sheila Gama promoveu uma audiência pública para divulgar um projeto milionário de urbanização e transporte no centro da cidade, incluindo o aeromóvel, de autoria do arquiteto Fernando MaDowell, e a revitalização do centro comercial, com os comerciantes e empresários assumindo os custos pela implantação e manutenção do tão falado Shopping a Céu Aberto. Eles já caíram fora.

De acordo com a prefeita Sheila Gama, a primeira fase do projeto seria a integração do aeromóvel em oito estações: Centro – na altura do Top Shopping, na Dom Walmor, no Polo Gastronômico - pela Via Light -, na Praça Santos Dumont, no Shopping Iguaçu Square - com os ônibus que saem da Rodoviária de Nova Iguaçu -, na Praça da Liberdade - ligando o Aeromóvel a Supervia - e na Rua Capitão Chaves, próximo a Vila Olímpica. Ainda segundo a prefeita, na primeira etapa serão duas composições com três vagões cada e capacidade de carregar até 272 passageiros. Nessa fase serão quase cinco quilômetros de trilhos e o projeto pretende chegar a outros bairros, entre eles Cabuçu e Santa Rita. A licitação ocorreria em novembro. Não aconteceu, dezembro está quase no fim e na Prefeitura não se toca no assunto.

Esperteza ou mania de grandeza?

Nova Iguaçu vem vivendo de promessas de grandes obras desde janeiro de 2005, quando Lindberg Farias começou anunciar projetos megalomaníacos que estão guardados até hoje. No governo Lindberg um outro arquiteto de renome e tantos outros escritórios de arquitetura estiveram na cidade e até mesmo transformaram o Apart-Hotel Mont Blanc em uma espécie de anexo da Prefeitura.

Na época o arquiteto Sérgio Magalhães, conhecido pelo projeto Favela-Bairro, desenvolvido no município do Rio de Janeiro, foi contratado para fazer projetos para Nova Iguaçu. Sob o argumento de que o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) iria emprestar US$ 150 milhões ao município, Lindberg contratou o arquiteto e urbanista Sérgio Magalhães para acelerar os projetos e conseguir a verba. Nada aconteceu até hoje, mas só nos dois primeiros anos da gestão de Farias escritórios de arquitetura faturaram cerca de R$ 26 milhões.

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